Vivemos em um mundo cada vez mais conectado, onde crianças já nascem cercadas por telas. Tablets, celulares e computadores se tornaram parte do cotidiano familiar, inclusive em momentos antes reservados à conversa ou ao brincar livre. Mas será que esse contato tão precoce com a tecnologia é inofensivo?
A ciência começa a responder essa pergunta com mais precisão, e os resultados merecem atenção. O cérebro infantil, especialmente nos primeiros anos de vida, está em intensa formação. É nesse período que ele desenvolve habilidades como linguagem, atenção, controle emocional e pensamento lógico. E tudo isso é moldado pela qualidade das experiências vividas, sejam elas presenciais ou digitais.
Estímulo demais, interação de menos
Um dos maiores riscos do uso excessivo da tecnologia na infância é a substituição de interações humanas por estímulos de tela. Aplicativos e vídeos coloridos podem entreter por horas, mas não oferecem a riqueza sensorial e emocional de uma conversa ou de um brinquedo manipulado com as mãos.
Estudos mostram que crianças expostas por longos períodos a telas tendem a ter atrasos na fala e dificuldades de atenção (Frontiers in Psychology, 2022). Isso acontece porque, ao invés de interagirem com adultos, o que estimula o vocabulário e a compreensão de mundo, elas passam mais tempo em um formato passivo, apenas recebendo informações.
O impacto na atenção e no sono
Outro ponto de preocupação é a atenção. Jogos e vídeos digitais são desenhados para prender o usuário, com trocas rápidas de imagens e sons. Isso pode deixar o cérebro infantil condicionado a estímulos curtos e recompensas imediatas, dificultando o foco em tarefas mais longas, como leitura ou estudo.
Além disso, o uso de telas antes de dormir atrapalha o sono. A luz azul emitida por esses dispositivos inibe a produção de melatonina, hormônio responsável por regular o sono. Como resultado, muitas crianças dormem menos e com qualidade inferior, o que compromete a memória e o aprendizado no dia seguinte.
Tecnologia pode ser aliada, com moderação
Apesar dos riscos, a tecnologia não precisa ser vista como vilã. Aplicativos educativos, vídeos interativos e jogos que incentivam a criatividade podem ter um papel positivo, desde que utilizados com limites e sob supervisão dos pais. O mais importante é garantir que o tempo na tela não substitua atividades essenciais para o desenvolvimento, como brincar ao ar livre, ler histórias, conversar com adultos e interagir com outras crianças.
Organizações como a Academia Americana de Pediatria recomendam que crianças entre 2 e 5 anos tenham no máximo uma hora por dia de uso de tela, sempre com acompanhamento. Antes dos dois anos, a orientação é evitar o uso, salvo em videochamadas com familiares.
Antes de proibir, pondere
A tecnologia está presente e continuará fazendo parte da infância moderna. O desafio está em dosar esse contato para que ele complemente e não substitua as experiências fundamentais para o desenvolvimento cerebral saudável. Com equilíbrio, limites claros e presença dos adultos, é possível usar as telas a favor do crescimento das crianças, e não contra ele.